Quando recorda o seu percurso, a Sofia Nhalungo é categórica: “tenho o privilégio de actualmente estar a trabalhar e sentir-me bióloga de conservação… e tudo é em parte graças ao PLCM, que foi o meu ponto de partida da minha carreira.” Essa afirmação resume o impacto de um programa que transforma jovens licenciados e técnicos médios em profissionais com voz e lugar nas instituições mais relevantes da conservação em Moçambique.
Publicado em 21/11/2025
Do ‘spoiler’ ao game changer: a viagem da Sofia com o PLCM
Em 2019, ainda à procura de uma oportunidade real, a Sofia recebeu um aviso que soou a promessa: “foi meio que um spoiler (Spoiler é uma palavra em inglês que quer dizer “contar antes do tempo”. Imagina que te contam o final de um filme antes de o veres: a surpresa fica estragada. Aqui significa que a Sofia recebeu uma dica do que ia acontecer em breve (abrirem candidaturas))… daqui a nada vamos lançar candidaturas, oportunidades para estágios. Vai lá para casa, fica atento às nossas plataformas.” Não sabia ainda que se chamaria Programa de Liderança para a Conservação de Moçambique (PLCM), mas percebia que aquele poderia ser o ponto de viragem. Candidatou-se, foi seleccionada e, pouco depois foi alocada na Administração Nacional das Áreas de Conservação (ANAC): a teoria ganhou prática com botas no chão, poeira no ar e rumo certo.
Na ANAC ficou claro que aquele não seria um estágio passivo: “Fomos recebidos como mão de obra, não como aqueles estagiários típicos que só vêm para observar.” A Sofia mergulhou no licenciamento da caça desportiva e teve a oportunidade de ser parte do grupo pioneiro no uso do novo sistema digital. “Tive a oportunidade de ser das primeiras a usar esse sistema de licenciamento electrónico…” A modernização tornou o processo mais rápido e fiável, e o desempenho da Sofia garantiu a prorrogação do estágio para doze meses. O que começou como algo temporário, transformou-se numa base sólida para o futuro.
Seguiu-se Niassa, ao mesmo tempo que crescia profissionalmente, e ingressava num mestrado também apoiado pelo PLCM e investigava o impacto da caça desportiva no comportamento das impalas. “Encontrei que há um efeito da caça desportiva: nas áreas de caça, os animais mostram mais a reação de medo à presença humana… esse medo eu medi em função da distância de fuga.” A pesquisa pioneira traduz-se em dados úteis para decisões de gestão. A Sofia resume o significado: “O PLCM foi o ‘game changer’ para mim na minha carreira profissional.”
A rede de contactos e o networking do PLCM abriram portas. Hoje, integra a equipa do Parque Nacional da Gorongosa, onde acompanha monitorias com cameras traps e aprofunda a ligação à natureza. “É um trabalho mais dinâmico. Estou em mais conexão com a natureza e terei também mais oportunidade de desenvolver pesquisas…” O fio que começou no spoiler de 2019 transformou-se numa história de competência consolidada.
Este efeito multiplica-se: a Sofia aconselha jovens candidatos, responde a dúvidas e inspira confiança. “Vale a pena apostar no PLCM… o mais importante de tudo é fazer networking e mostrar o seu valor.” O programa é um trampolim que liga universidades, áreas de conservação e entidades públicas e privadas, criando oportunidades reais para a primeira investigação, o primeiro contrato, o primeiro mentor. E é também uma engrenagem estrutural: ao formar quadros e apoiar instituições, o PLCM reforça directamente a capacidade do país em proteger os seus ecossistemas, gerir espécies e implementar políticas de conservação.
E os números confirmam: entre 2019 e 2025, o PLCM financiou subvenções de pesquisa, integrou centenas de jovens em estágios e levou educação ambiental a dezenas de milhares de pessoas. Para 2025–2030, o PLCM gostaria de escalar: criar uma Academia Nacional de Conservação, capacitar 500 técnicos, integrar≥500 jovens (40% mulheres), dinamizar 300 clubes ambientais e realizar pelo menos 6 campanhas de comunicação nacionais
A história da Sofia mostra o que o PLCM representa: um spoiler transformado em carreira, um estágio transformado em serviço público, uma pergunta científica transformada em ferramenta de gestão. Para os jovens, a mensagem é clara: candidatem-se, preparem-se e mostrem o vosso valor. Para os financiadores, a equação é simples: investir no PLCM é apostar em resultados concretos na inclusão de talento local, na eficácia das instituições, e sobretudo, na protecção viva da biodiversidade moçambicana.
O PLCM é um programa conjunto da BIOFUND e da ANAC. À BIOFUND, como líder do programa cabe-lhe a responsabilidade de mobilizar, formar e inspirar jovens, através de bolsas, estágios e programas de cidadania ambiental, à ANAC, como autoridade nacional, compete enquadrar estes jovens nas áreas de conservação, garantir supervisão técnica e transformar o seu contributo em valor efectivo para a gestão. É desta colaboração que resulta a força do programa: um elo de confiança que une sociedade civil e governo, com impacto directo na conservação da biodiversidade.
O programa teve o seu arranque em 2019 com o financiamento exclusivo do Banco Mundial e, desde 2023, também com o apoio financeiro adicional da Embaixada da Suécia em Moçambique, através da Agência Sueca de Cooperação para o Desenvolvimento Internacional (SIDA).
