Evento histórico que reúniu diversos especialistas, instituições governamentais chave, instituições académicas e de investigação, ONGs de conservação, sector privado, e parceiros de desenvolvimento para abordar protecção da biodiversidade nacional face às crescentes ameaças ambientais
Publicado em 04/07/2025
BIOFUND Lança a Iniciativa dos Ecossistemas Montanhosos de Moçambique
O Grupo de especialistas que pretende impulsionar a conservação das montanhas de Moçambique entre os quais a ANAC, a WWF, a ReGeCom, a NITIDADE, o Parque Nacional da Gorongosa, o Parque Nacional de Chimanimani, cientistas nacionais e internacionais, o Fundo de Conservação do Malawi junto com a Fundação para a Conservação da Biodiversidade (BIOFUND) realizou ontem, no Hotel Radisson Blu, o seminário de lançamento da Iniciativa dos Ecossistemas Montanhosos de Moçambique (IMM), uma plataforma de acção concertada que visa a protecção e uso sustentável dos serviços ecossistémicos oferecidos pela rica rede de montanhas do país. O evento, que decorreu sob o lema “Jornada rumo à Protecção e uso Sustentável da Rede de Montanhas de Moçambique”, reuniu mais de 160 participantes, incluindo representantes governamentais, académicos, sociedade civil, sector privado e parceiros de desenvolvimento.
Contexto Crítico e Urgência de Acção
O lançamento da iniciativa surge num momento particularmente crítico, em que os ecossistemas montanhosos moçambicanos enfrentam pressões crescentes de devastação. Os organizadores referiram casos recentes como o documentado no Monte Mabo, distrito de Lugela, Zambézia, onde foram identificados nove pontos de corte ilegal de madeira da espécie Umbila, conforme noticiado no “Bom dia Moçambique”, TVM, no dia 26 de Junho de 2025, com o envolvimento de cidadãos estrangeiros e líderes comunitários locais. Esta situação ilustra a urgência das medidas de protecção que a IMM pretende implementar. Deve-se destacar que decorre desde 2020 o programa PROMOVE Biodiversidade cujo resultado principal é criar instituições locais (CONSERVAMabu) que possam liderar a gestão do Monte Mabu, estabelecer a área de conservação comunitária cobrindo cerca de 9300 ha delineados de forma participativa com as comunidades locais e desenvolvendo meios de vida sustentáveis gerando emprego e renda que incentive a conservação da biodiversidade.
Valor Estratégico dos Ecossistemas Montanhosos
Durante o seminário, foi destacado que os ecossistemas montanhosos de Moçambique são ricos em biodiversidade contribuindo significativamente para serviços ecossistémicos essenciais, incluindo regulação hidrológica, fertilidade do solo, polinização e estabilização climática. Julian Bayliss, orador principal, apresentou dados científicos que demonstram como estas montanhas possuem espécies plantas e faunísticas endémicas, raras, novas para a ciência, ameaçadas de extinção segundo a classificação da Lista Vermelha de Espécies da União Internacional para a Conservação da Natureza (IUCN).
Estes serviços apoiam directamente a economia nacional gerando emprego, renda, impostos entre outros através do fornecimento de água às áreas urbanas, oferta de água mineral (Namaacha, Gurué e Vumba), pesca e geração de energia hidroeléctrica para além de oferta de serviços que contribuem na segurança alimentar. Os ricos mitos e costumes socioculturais associados às montanhas salvaguardam outros serviços ecossistémicos incluindo a protecção da biodiversidade.
Apresentadas experiências de engajamento da comunidade na gestão sustentável das montanhas de Manica, Sofala e Zambézia
O seminário incluiu um painel especializado com representantes de quatro montanhas emblemáticas:
- António Ngovene (Chimanimani) apresentou os resultados do levantamento de indicadores de biodiversidade, destacando características ecológicas e socioculturais únicas
- Thor Kuchler (Gorongosa) focou nas soluções implementadas, desde meios de vida sustentáveis a programas de restauração da montanha, demonstrando modelos eficazes de participação comunitária
- Sá Nogueira (Namuli) abordou as intervenções de uso sustentável implementadas e o seu efeito positivo no bem-estar das comunidades locais
- António Serra (Mabu) partilhou as etapas de estabelecimento da área de conservação comunitária, enfatizando a liderança comunitária na gestão e sustentabilidade financeira.
Chamada Nacional à Acção
José Monteiro e Camila de Sousa foram responsáveis por fechar este evento com o lançamento oficial da IMM através de um apelo específico dirigido a diversos sectores da sociedade moçambicana:
- Investigadores e Estudantes foram chamados a intensificar estudos sobre ecologia, biodiversidade, antropologia, história, cultura e valor económico das montanhas
- Organizações da Sociedade Civil e Sector Privado foram apelados a apoiar as comunidades no desenvolvimento de cadeias de valor sustentáveis, exploração de oportunidades económicas em parceria com comunidades locais e estabelecimento de mecanismos de pagamento pelos serviços ecossistémicos
- Governo foi instado a criar ambiente favorável para a protecção, gestão sustentável e pagamento pelos serviços dos ecossistemas montanhosos
- Parceiros de Desenvolvimento foram convidados a apoiar programas que abordem a biodiversidade das montanhas e contribuam para a regulação climática e hidrológica dentro das fronteiras nacionais e transfronteiriças.
Contexto histórico da iniciativa
A IMM resulta da participação de investigadores e profissionais moçambicanos na 2ª Conferência de Montanha da África Austral (SAMC), realizada na África do Sul em Março de 2025, que galvanizou a necessidade de uma acção concertada com vista à protecção nacional e transfronteiriça das montanhas. Cientistas internacionais e nacionais, profissionais e representantes governamentais realizaram posteriormente sessões de reflexão para conceptualizar esta iniciativa.
Próximos passos
A Iniciativa dos Ecossistemas Montanhosos de Moçambique estabelece-se agora como plataforma permanente de reflexão e acção para a protecção, promoção do uso sustentável e pagamento pelos serviços ecossistémicos das montanhas moçambicanas e transfronteiriças. A iniciativa incluirá uma agenda de curto e longo prazo, envolvendo todos os sectores da sociedade na preservação deste património nacional e internacional único.