O Parque Nacional de Chimanimani, localizado no distrito de Sussundenga, província de Manica, encerrou no passado dia 10 de Dezembro um ciclo de cinco anos (2021–2025) de implementação do Projecto de Conservação da Biodiversidade e Desenvolvimento Comunitário (CBDC), financiado pela Agência Francesa de Desenvolvimento (AFD), Fundo Francês para o Meio Ambiente (FFEM) e Fauna & Flora (FF), com um orçamento total de 4,8 milhões de Euros. O workshop final de apresentação dos resultados reuniu parceiros de implementação, governo local, comunidades e especialistas para validar conquistas que incluem a documentação de 1.365 espécies de biodiversidade, a valorização de 9 pontos turísticos com potencial histórico cultural e a concepção de mecanismos inovadores de financiamento baseados em serviços ecossistémicos.
Publicado em 19/12/2025
Chimanimani: 5 anos de resultados concretos na conservação da biodiversidade e desenvolvimento comunitário
Chimanimani é uma das 57 áreas importantes de plantas de Moçambique e um dos principais fornecedores de água da região, abastecendo a bacia de Búzi responsável pelo abastecimento de mais de um milhão de pessoas em três distritos da província de Manica e garantindo cerca de 70% da água que chega à barragem de Chicamba. Antes do projecto, o conhecimento sobre a biodiversidade era fragmentado, o património historico cultural pouco documentado e as comunidades careciam de modelos de desenvolvimento compatíveis com a conservação. O CBDC foi concebido para responder a estas lacunas através de uma abordagem integrada que articula conservação, meios de subsistência comunitários e governação territorial.
O principal resultado tangível da Componente 1 foi a criação de uma base de dados consolidada com 1.365 espécies de flora e fauna registadas no Parque Nacional de Chimanimani e na sua zona tampão. Este avanço científico articulou-se com o conhecimento local das comunidades, através de um estudo etnobotânico conduzido pelo IIAM que valorizou usos tradicionais de espécies medicinais, alimentares, espirituais e artesanais.
A Componente 1 integrou também o inventário da biodiversidade e do património histórico-cultural, que resultou na identificação de 33 locais: 8 montanhas, 4 florestas sagradas, 16 cascatas/lagoas/nascentes e 5 estações arqueológicas. Deste processo resultaram manuais de inventário e de gestão do património cultural, um código de conduta para visitantes em três línguas e um plano de marketing com horizonte de 10 anos. A partir deste trabalho, 9 locais foram seleccionados para valorização turística, o que cria novas oportunidades de geração de rendimento associado à cultura e à natureza.
Na Componente 2, o foco esteve na clarificação dos direitos territoriais e na inclusão comunitária. Foram demarcadas terras comunitárias, elaborados Planos comunitários de Uso de Terras onde foram constituídas legalmente 20 associações comunitárias e 20 unidades de gestão e delimitadas mais de 5 mil parcelas familiares. De acordo com Clara Levy, da AFD,
«a governança da terra e da comunidade foi consideravelmente consolidada, mais de 5 mil parcelas foram delimitadas, 20 associações foram legalmente constituídas, e vimos com satisfação a maior participação de mulheres e jovens nos processos,» acrescentando que «esta dinâmica é importante ou essencial para garantir uma gestão sustentável dos recursos e uma apropriação real e inclusiva das novas oportunidades.»
A Componente 3 consolidou a cadeia de valor do mel e de outros produtos naturais, transformando uma actividade tradicional numa oportunidade económica organizada. Foram formados apicultores líderes, reabilitada a fábrica de processamento e criada uma nova oferta de produtos sob marca local, fortalecendo a ligação entre conservação da floresta e aumento de rendimentos familiares.
Finalmente, a Componente 4 abordou o grande desafio da sustentabilidade financeira. A BIOFUND liderou estudos de Pagamento por Serviços Ambientais (PSA) que estimam em cerca de 4 mil milhões de meticais (cerca de 63 milhões de USD) por ano o valor dos serviços hídricos prestados pelo Parque Nacional de Chimanimani, equivalente a várias décadas de custos operacionais do parque. Como sublinhou Vanda Machava, do BIOFUND,
«O Parque Nacional de Chimanimani fornece diferentes serviços. Por exemplo, sabemos que uma parte da população vive da agricultura. Eles obtêm água nos diferentes rios que nascem no Parque Nacional Chimanimani. Esta água também é usada para o consumo da população, para pescas e também as minídricas acabam produzindo energia através desta água,» reforçando que a água é um elo directo entre conservação e bem-estar humano.
Nesta componente, o projecto realçou a criação de capacidades no PNC para a implementação de projectos de restauração para alcance de ganhos líquidos de biodiversidade, tendo restaurado 240 ha, criado 78 empregos temporários aos membros da comunidade residentes na zona tampão e capacitado 3 técnicos do parque em matérias de restauração de áreas degradadas.
O encerramento do projecto não foi apresentado como um ponto final, mas como transição. Nas palavras de Clara Levy, «Ao chegarmos ao final formal do projecto, gostaria de lembrar que isso não significa o fim de nosso compromisso colectivo. Pelo contrário, esta clausura marca o início de uma nova dinâmica.» O apelo foi ecoado por Contardo Muarramuassa, que afirmou: «Chimanimane é a nossa esperança. Temos todos de viva voz conservarmos esse nosso patrimônio, porque dependemos dela para a nossa existência,» capturando a essência do CBDC: conservação como responsabilidade partilhada e condição de futuro para as comunidades e para o país.
